terça-feira, 3 de setembro de 2013

GOVERNADORES/INTERVENTORES MINEIROS PÓS-REVOLUÇÃO

Governadores/interventores

mineiros pós-revolução

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Quando me recebeu em audiência, o Dr. Israel Pinheiro vivia numa
verdadeira corda bamba. Adormecia governador do estado sem saber se
acordaria governador. Conheço alguns detalhes dessa posição delicada,
porque fui colega de turma e sou parente do comandante da força pública
na época, o coronel José Cunha Ortiga, filho da Alzira Cunha, prima e
conterrânea de minha mãe. O José Ortiga, que terminou a Faculdade de
Direito em 1958, foi companheiro dos mais queridos e estimados e está
vivo até hoje, graças a Deus. Anos depois, quando a coisa se aquietou e
eu deixei de ser aquele deputado combativo, algumas vezes rixento, brigando
com o pessoal que usava farda, o já reformado coronel Ortiga me
explicou as várias passagens de dificuldade do governo do Dr. Israel, por
um triz não deposto pelos militares. Acrescento que o Ortiga quase perdeu
os seus direitos políticos por causa da posição extremamente viril
que adotou, em defesa do governador e da posse do vice-presidente Pedro
Aleixo. Quando do falecimento do Costa e Silva, o coronel participou
de pelo menos uma das várias reuniões realizadas na casa do Dr. José
Maria Alckmim, posicionando-se no sentido de que o Dr. Pedro Aleixo
deveria vir para Minas e aqui se empossar, com a cobertura ostensiva da
PMMG. Na ocasião eu, em meu radicalismo, nutria pelo Dr. Israel profunda
antipatia, devidamente retribuída, diga-se a bem da verdade. Tal
sentimento decorria de ele haver sido eleito em substituição a nosso candidato,
Sebastião Paes de Almeida, popularmente conhecido por Tião
Medonho, numa campanha que fizemos em apenas duas semanas. Vale
recordar que o Sebastião, por sinal meu chegado e saudoso amigo, foi
cassado numa torpe manobra da UDN junto ao Tribunal Superior Eleitoral,
o que nos deu apenas dezessete dias para fazer a campanha do candidato
que entrou em substituição. E eu, inteira e absolutamente
inflexível, entendia que o Dr. Israel deveria se filiar ao MDB, não à
Arena, que era representada pela UDN, pelo PSD e partes do PR, além

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de outros setores reacionários. Achava uma traição dele ter se filiado à
Arena, quando foi eleito por nós, que, com JK à frente, viríamos a constituir
o MBD. Então eu, muito jovem, fortemente instado por JK e Sebastião
Paes de Almeida, fiz uma campanha tremenda, muito grande,
pelo Dr. Israel Pinheiro. E ele, dou a mão à palmatória, foi um grande
governador, um homem probo, honesto, até mesmo inventivo, já que ajudou
a criar as sublegendas, implantando o chamado “poder de mando”.
A sublegenda que mais se destacava nas eleições municipais é que tinha
o mando das decisões administrativas do governo do estado. Acresce esclarecer
que não tivesse ele feito aquela opção, não teria governado
Minas Gerais em tempo nenhum, nem posse teria tomado. Foi empossado
dois ou três dias antes de editado o AI-2. Mas, definitivamente, não
teria governado, como também o Dr. Negrão de Lima não teria governado
o estado do Rio de Janeiro, naquela época Guanabara, se tivesse
optado, como tantos desejaram, pelo MDB. Mas, repetia sempre o Antônio
Carlos Andrada, não o Magalhães Pinto, conforme comumente se
propala e acredita, a política é como nuvem, muda a cada momento. Com
ela, os nomes, os fatos, a interpretação dos fatos e a própria história. Porque
daí para a frente, a partir da eleição deles até o término dos mandatos,
o que tivemos no Brasil foram meros interventores federais nos estados.
Aqui em Minas, o primeiro desses interventores foi o Rondon Pacheco,
figura notável do ponto de vista administrativo. Outro foi Aureliano Chaves,
também um bom governante. O terceiro foi Francelino Pereira, com
quem eu tinha uma relação muito remota, basicamente de breves diálogos,
às vezes de meros cumprimentos, já que por ele nunca tive grandes
amores. Faço aqui absoluta questão de ressaltar que todos os três foram
homens de ilibado comportamento e irretocável trato com a coisa pública.
Até aquela ocasião felizmente, se posso assim dizer, não existia
esse negócio de meter a mão no dinheiro público. Apesar disso, embora
esse reconhecimento, reitero, faço questão de ressaltar, que todos os três
não deixaram de ser meros interventores do poder central em Minas Gerais,
como o foram também os demais governantes dos outros estados
durante o regime militar. Somente Israel e Negrão de Lima foram eleitos
pelo voto direto. O passar dos anos me fez compreender os motivos que
levaram o Dr. Israel a se filiar ao partido da situação, apesar de ter sido
eleito por nós, oposicionistas. Foi muito difícil, por tudo isso, marcar a
audiência a que me referi linhas atrás, afinal conseguida por intermédio
do deputado Bonifácio Andrada.

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